quinta-feira, novembro 24, 2016

Carmelita Namashulua insiste que os corpos estavam irreconhecíveis

Ainda sobre a vala comum em Tete

Só não disse como é que, depois da exumação, os corpos se tornaram reconhecíveis.

O Governo continua a mentir sobre as razões da abertura de uma vala comum, onde havia enterrado doze corpos de vítimas do incêndio de proporções gigantescas que, até terça-feira, tinha causado a morte de 84 pessoas e ferido 173, na localidade de Caphridzange, no distrito de Moatize, na província de Tete. A ministra da Administração Estatal e Função Pública, Carmelita Namashilua, foi ontem à Assembleia da República repetir o que disse em ocasiões anteriores: que os corpos foram enterrados na vala comum porque estavam irreconhecíveis.

Os corpos vieram depois a ser exumados e reconhecidos, sem a intervenção da Medicina Legal.

“A realização da sepultura provisória de alguns corpos na vala comum deveu-se ao facto de se apresentarem num avançado estado de decomposição, carbonizados e desfigurados, dificultando a identificação e reconhecimento dos mesmos”, disse Carmelita Namashulua.


No entanto, não explicou como é que, depois da exumação, os corpos se tornaram reconhecíveis, sem intervenção da Medicina Legal.

Apesar de a ministra dizer que a decisão foi tomada pelos “líderes comunitários”, o CANALMOZ sabe que foi o Governo que ordenou a abertura da vala a escassos metros da rua onde o incidente ocorreu.

Sabemos também que a decisão do Governo foi unilateral e que os familiares das vítimas não tiveram a oportunidade de chegar perto dos corpos para o reconhecimento, nem a Medicina Legal foi chamada, o que gerou uma indignação generalizada e com condimentos políticos à mistura, e acabou por se fazer a exumação dos corpos já enterrados, para efeitos de identificação pelos familiares e para um enterro condigno.

Numa conversa que tivemos com Geraldo Carvalho, deputado do Movimento Democrático de Moçambique, que se deslocou a Tete para acompanhar os desenvolvimentos da tragédia, ficámos a saber que sete corpos foram reconhecidos pelos seus familiares, sem intervenção da Medicina Legal, o que deita abaixo o discurso do Governo de que os corpos estavam irreconhecíveis.

“Os corpos foram exumados ontem [domingo, dia 20], por volta das 7h00”, disse Geraldo Carvalho.

Segundo o deputado, para a operação, o Governo enviou uma equipa da Medicina Legal, acompanhada por um contingente policial fortemente armado. Até carros blindados foram enviados. A ideia era evitar uma eventual rebelião, devido à decisão irresponsável do Governo.

Local do incidente sempre foi centro de roubo e venda de combustível, envolvendo governantes de Tete

Segundo dados do Governo, o camião em causa, um Mercedes Benz com matrícula SA LL 2829 e plataforma 2565, pertencente à companhia malawiana “Walkers Investiment” saíra da cidade da Beira com destino ao Malawi. Mas avariou-se no local onde, posteriormente, viria a ocorrer o incidente. De seguida, uma outra viatura da mesma marca, com matrícula SA 1765, pertencente à mesma empresa, chegou ao local para supostamente socorrer a viatura avariada, mas, em vez disso, entrou na mata e, utilizando uma motobomba, o motorista drenou combustível para uma outra viatura moçambicana. Durante esse processo, registou-se um curto-circuito, que causou um pequeno incêndio, cujas chamas cessaram. Depois do pequeno incidente, os motoristas puseram-se em fuga. Foi aí que pessoas residentes nas imediações tomaram conta do camião, supostamente avariado, e, utilizando pequenos recipientes, começaram a roubar o combustível. Enquanto roubavam o combustível, verificou-se a explosão que originou a tragédia.

Uma fonte do CANALMOZ, em Tete, garantiu-nos que o local do incidente é uma praça de roubo e venda de combustível. Segundo essa fonte, a versão sobre a avaria do camião pode ser uma farsa. Segundo a nossa fonte, o camião estacionou no local para drenar combustível, para ser vendido posteriormente, como acontece habitualmente. Segundo apurou o nosso jornal, o negócio envolve gente ligada ao Conselho Municipal de Tete e ao próprio Governo da província de Tete.

Número de vítimas subiu para oitenta e quatro

Dados do Governo sobre o número de óbitos, referentes a 22 de Novembro, indicam que houve 43 óbitos no próprio local; houve duas pessoas que morreram a caminho do hospital; e 39 pessoas morreram já no hospital, fixando em 84 o número total de óbitos. Há um total de 173 feridos, uns, graves, e outros, ligeiros. Deram entrada no hospital 108 pacientes. Destes, 60 permanecem internados; destes, 30 estão em estado grave.
(André Mulungo)


Fonte: CANALMOZ – 24.11.2016

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