quinta-feira, dezembro 22, 2011

O culpado das reprovações em massa

Há muito que se tem falado do fraco nível do sistema de ensino em Moçambique, mas nada nos teria melhor preparado para chegar a essa conclusão se não os resultados registados nos últimos exames do ensino secundário geral em algumas escolas do país, sobretudo na cidade de Maputo. Aqui, turmas inteiras (ou quase isso) reprovaram, e os alunos serão obrigados a repetir os exames na segunda época.
Quando reprovações ocorrem em massa, torna-se difícil sustentar o argumento de que a culpa é dos alunos que não estudam.
Também não se pode atirar a culpa aos professores. É muito pouco provável que esteja tão generalizado o fenómeno de professores sem competência técnica e pedagógica para atingir melhores resultados.
Então, se o problema não é dos alunos, e ainda muito menos dos professores, onde recai a responsabilidade? Sobre todo o sitema de administração do ensino no país, evidentemente.
Haverá vários factores que contribuem para esta situação desagradável e de graves consequências para o futuro desenvolvimento de Moçambique.
Um desses factores é que o rácio aluno-professor continua ainda muito alto, não permitindo, por isso, o acompanhamento sistemático da assimilação do conhecimento pelos alunos, por parte do professor. A solução deste problema passará, naturalmente, pela construção de mais escolas e  formação de professores em quantidades que contribuam, gradualmente, para a redução desse rácio.
Por outro lado, os poucos professores existentes são obrigados a desdobrarem-se por várias turmas, deixando-os com pouco tempo para se prepararem adequadamente para as aulas.
A isto tudo junta-se a pouca motivação dos professores, os quais, com os seus baixos salários, são obrigados a multiplicarem as suas actividades para melhorar o seu rendimento. São os professores “turbo”.
Mas há uma questão mais fundamental ainda. A decadência de todo o sistema de valores sociais que deveriam reservar ao ensino um lugar de especial destaque na sociedade.
É testemunho disso a reacção do Ministro da Educação, Zeferino Martins, quando analisa este escandaloso nível de reprovações ao facto das autoridades terem introduzido medidas mais restritivas para reduzir a incidência da fraude escolar.
O que se pode concluir destas declarações do Ministro é que antes não havia rigor nos exames, e que por isso a fraude escolar era um fenómeno generalizado, permitindo aos alunos passar de classe fraudulentamente.
Nada que não sabíamos. Desde a venda atempada de exames até às famosas cábulas.
Assim, com base nestes esquemas fraudulentos alunos sem conhecimentos passavam de classe, prosseguindo para o ensino universitário. O que por sua vez pressupõe que os graduados das nossas universidades sofrem de graves deficiências estruturais na sua formação.
As consequências não são menos graves. Num ambiente económico cada vez mais competitivo, e em que os investidores para se posicionarem à frente da concorrência procuram quadros melhor qualificados, não apenas pessoas com diplomas, é de esperar que muitos jovens moçambicanos graduados ao nível universitário não estejam em condições para tirar benefícios do crescimento da economia como profissionais de mão cheia.
Isto é muito grave numa altura de consolidação da integração das economias da região, com a possibilidade de liberalização do mercado do trabalho. Com estas deficiências de formação, os  quadros moçambicanos tornam-se menos competitivos no mercado de trabalho em comparação com os dos outros países da região, abrindo espaço para que postos de trabalho disponíveis sejam tomados por indivíduos de outros países.
Neste ambiente, só aqueles jovens pertencentes à elite, cujos pais têm posses suficientes para os colocar a estudar no estrangeiro poderão competir seriamente.
Uma sociedade assim estruturada é um potencial barril de pólvora simplesmente à espera do dia da explosão.

Fonte: SAVANA 22.12.2011

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