sexta-feira, outubro 14, 2011

Líderes sindicais dos docentes confundem-se com patronato – acusam professores em Quelimane

Professores em exercício na província da Zambézia acusam os seus líderes sindicais de nada estarem a fazer para resolver os problemas que enfermam a classe. Estes, por sua vez, refutam todas as acusações, alegando não haver valorização dos esforços empreendidos para a busca de soluções para a satisfação das suas preocupações.

Em depoimentos registados há dias pelo jornal Notícias em Quelimane, os docentes daquela cidade afirmaram que os actuais líderes sindicais esqueceram-se da missão para a qual foram eleitos, passando a comportar-se como se fossem espiões do governo, limitando a liberdade de expressão e de opinião.

Este rol de acusações surge na sequência do encontro que os professores mantiveram recentemente com o governador da Zambézia, durante o qual Francisco Itae Meque teria, alegadamente, dito que tinha os nomes dos professores agitadores em referência àquele que exigem o pagamento de horas extraordinárias de dois anos.

Segundo o jornal Notícias, os professores de Quelimane acusam Felizardo Semente, Secretário Provincial da ONP, de ser “mentiroso”, quando diz que eles são ameaçados com processos disciplinares, transferência sem justa causa ou mesmo punidos e alvo de “acompanhamento” por parte da organização sindical.

Renato Aleixo, um dos professores que interveio, disse que os docentes, pouco ou quase nada sentem da protecção do sindicato, que deveria agir como um organismo de pressão, para forçar o governo a resolver os problemas de falta de condições de trabalho, o não pagamento de horas extraordinárias, demora nas nomeações e categorização, entre outras preocupações.

Aleixo afirmou haver colegas seus que pelo facto de terem levantado problemas em encontros foram ameaçados com processos disciplinares ou punidos disciplinarmente sem justa causa, mas o sindicato continua inerte, amorfo e a colaborar para a penalização dos professores. “Há vários exemplos de colegas que foram punidos e ostracizados só porque puseram o dedo na ferida”, disse Renato Aleixo, citado por aquele jornal.

Jucundo Uafeua, outro docente que também interveio no encontro com o governador, afirmou, igualmente, que o diálogo entre os professores, direcções das escolas e o sindicato afigura-se precário, pois qualquer tentativa neste sentido incorre no risco de ser conotado com partidos políticos da oposição. Aquele professor entende que o sindicato deveria ser um braço directo dos professores quando se trata de lutar para os direitos da classe que estão a ser violados, como, por exemplo, trabalhar dois anos sem receber as remunerações das horas extras.

Entretanto, o Secretário Provincial da ONP, na Zambézia, Felizardo Semente, reconhece haver muitos problemas e desafios por resolver. Explicou que nem tudo o que os professores dizem constitui verdade, visto que foi o próprio sindicato que pediu ao governador da Zambézia para se explicar perante os docentes sobre as razões do atraso no pagamento de horas extras e a demora nas nomeações, entre outras dificuldades.

“A província tem 24 600 professores, cada um com uma preocupação. Aquele que não é abrangido na solução do seu problema pensa que nós não estamos a fazer nada, o que não é verdade. Estamos a trabalhar”, disse Felizardo Semente, reconhecendo, no entanto, não ser possível satisfazer a ansiedade de todos os professores.

Quanto aos docentes que são ameaçados com processos disciplinares, quando apontam eventuais erros, o líder sindical afirmou que o sindicato só age quando esta lhe for reportada a ocorrência. “Por exemplo, estava em Mopeia onde um professor foi transferido para uma zona recôndita como castigo, porque levantou problemas. Estivemos lá e tratámos o assunto porque a informação chegou até nós”, disse Felizardo Semente.

Em relação às condições de vida e de trabalho dos docentes, Felizardo Semente afirmou que o professor vive à medida das dificuldades do país. “Eu sou sindicalista mas vivo em péssimas condições de vida. O salário é fixado pelo governo e nós nada podemos fazer. Cabe a cada professor, com o pouco que recebe, ser criativo e imaginativo para melhorar as condições de vida. Não vejo outra saída”, considerou aquele dirigente da organização sindical.

Fonte: Rádio Mocambique - 14.10.2011

Reflectindo: A questão fica sobre o processo da escolha ou eleicão dos líderes sindicais. Como e quando se elegem? Quem os propõe? Com que interesse certas pessoas são propostas para o secretariado da ONP? Quem são os delegados à conferência eleitoral?

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