quarta-feira, setembro 21, 2011

As lágrimas de Manuel Araújo por Quelimane!


Fonte: O País online - 20.09.2011
Candidato do MDM já está na estrada rumo às eleições intercalares de 7 de Dezembro.
O candidato do MDM  a edil de Quelimane, Manuel de Araújo, concedeu uma entrevista ao “O País”  marcada por lágrimas pelo “sofrimento dos munícipes”.  De Araújo diz que foi a população de Quelimane que lhe pediu para ser candidato. Diz-se confiante na vitória e refere ter apoio até dentro da Frelimo. Deixou cair lágrimas pelo alegado esquecimento a que o general Bonifácio Gruveta está votado.
A sete de Dezembro, Quelimane acolhe as eleições intercalares para escolher o sucessor de Pio Matos, edil que renunciou ao cargo. O senhor Manuel de Araújo é candidato confirmado pelo MDM. Sendo uma pessoa que conhece muito bem Quelimane, em termos de prioridades, o que leva como estandarte da sua candidatura?
A prioridade número 1 são infra-estruturas. A cidade de Quelimane foi negligenciada nos últimos 35 anos de governação em termos de alocação de recursos para a reabilitação, manutenção e desenvolvimento da cidade. Assim, é um município que estagnou durante 35 anos. Portanto, qualquer processo de desenvolvimento, aquilo que nós queremos, deve ser marcado pela era do recomeçar. A cidade de Quelimane já foi conhecida - e eu falo com a maior nostalgia - por pequeno Brasil. Mas hoje, talvez, nem pequeníssimo Brasil é. Quelimane tem uma vastidão cultural invejável, mas hoje não conseguimos ver isso por causa da degradação física dos edifícios, mas também por causa da degradação moral. É necessário devolver a dignidade à cidade de Quelimane.
Qual era a semelhança entre Quelimane e Brasil?
Quelimane, até hoje, tem o melhor carnaval de Moçambique. Como sabe, o melhor carnaval do mundo está no Brasil. Como também deve saber, a forma de ser/estar dos brasileiros é notória em Quelimane. Nós também gostamos de estar bem com todos. Um pequeno exemplo: aceite que lhe leve um pouco para o lado político. Se se recorda, na altura de Abdul Carimo (actual director da Unidade Técnica de Reforma Legal)  como vice-presidente da Assembleia da República, havia uma bancada chamada quarta bancada. Era assim chamada porque os deputados, tanto da Frelimo como da Renamo, que se encontravam no parlamento conviviam. Quelimane era o único círculo eleitoral onde os deputados não se degladiavam no pior sentido da palavra. Havia uma convivência sã.
Disse que, neste momento, Quelimane, talvez,  nem pequeníssimo Brasil é e citou duas degradações: de infra-estruturas e da moral. O que terá estado na origem dessas degradações e como pensa reverter o cenário?
Primeiro, é uma questão de recursos. A cidade de Quelimane foi privada de recursos durante estes 35 anos. Como se costume dizer: “sem ovo não se faz omolete”. Essa é, para mim, a primeira razão. A segunda, também ligada à primeira, é que Quelimane era capital de uma província especial no país, porque a província da Zambézia era a que tinha o maior número de empresas agrícolas. Trata-se duma realidade que vem dos séculos XVIII e XIX, altura em que, na Zambézia, havia empresas majestáticas, pois o governo português havia cedido uma parte da sua soberania – eram empresas que até cunhavam a sua moeda, tinham polícia própria e o próprio polícia sabia que não era permitido entrar, quer da Madal, Boror, Zambézia e outras –, tudo porque o colono não tinha capital para investir. Então, o que é que fez? Arrendou parte da Zambézia a certas companhias de capital estrangeiro, a saber, francês, belga e inglês, que veio a Moçambique e constituiu certas empresas. Tal é o caso da “Sena Sugar States”. Eram, na verdade, empresas que mantinham viva a elite de Quelimane. A maior parte da elite de Quelimane vivia na base dos projectos dessas companhias majestáticas. A província da Zambézia contribuía com mais de 60 por cento para o PIB dentro das províncias de Moçambique. Cerca de 70 por cento da produção agrícola deste país provinha da província da Zambézia.  Por isso, acabou criando uma estrutura e certa pujança que acabou dando à cidade de Quelimane uma forma especial de ser. Na história de Moçambique, a Frelimo tinha criado quatro frentes. Eu tive o privilégio de ter tido uma cadeira sobre a história da Frelimo, no Instituto Superior de Relações Internacionais, que nos explicava os contornos da luta armada de libertação nacional. Essas frentes eram: Cabo Delgado, Niassa, Tete e Quelimane. Duas dessas frentes fracassaram e acabaram por serem encerradas por dificuldades de Quelimane: a de Tete e a de Quelimane. Por isso, houve sempre um mal-estar por parte da Frelimo com a Zambézia. Houve um erro estratégico por parte da Frelimo. Daí que apareceu o ódio visceral em que a parte dura da Frelimo tem e isso nunca conseguimos ultrapassar nestes 35 anos. Quando a Renamo chegou, encontrou um terreno fértil, pois a Frelimo chegou em 1975 disse: “vocês não alinharam connosco e agora vamos ver quem é que tem poder”. Se se recorda, a maior parte dos combates durante a guerra civil se deu no Vale do Rio Zambeze. Nesse processo, houve generais, como Lagos Lidimo, que comandaram essas operações e cometeram atrocidades gravíssimas:  mataram milhares de pessoas utilizando bombas, “migs” e helicópteros, sendo, por isso, que a população de todos os distritos da Zambézia se ressente desse processo.

Umas das coisas que os candidatos do Movimento Democrático de Moçambique dizem é que vão fazer história. A que tipo de história se referem?
Não são apenas os candidatos e membros do MDM que dizem isso, os munícipes também. Vamos fazer história porque vai ser a primeira vez que vamos ter eleições intercalares. Vamos fazer história porque vamos ganhar estas eleições. Também porque vai ser a primeira vez, na história do município de Quelimane, que teremos um presidente que não seja do partido no poder.  

Portanto, o candidato Manuel de Araújo está confiante na vitória?
Eu não tenho dúvida. O presidente do Conselho Municipal de Quelimane cessante, Pio Matos, disse uma coisa que ficou no coração de todos os munícipes de Quelimane: “Só vai governar Quelimane quem ama Quelimane.” Eu amo Quelimane. Vou governar Quelimane.
Consta que tem forte apoio dos membros da Frelimo. É verdade?
Não tenho apenas apoio dos membros da Renamo, mas também da Frelimo e do PDD. Tenho forte apoio de todos os quadrantes. A minha candidatura é do povo de Quelimane. Nós estamos cansados de sermos espezinhados. Foram homens e mulheres que, durante vários dias, vieram bater a porta da casa dos meus pais e pediram que eu assumisse este desafio.
Com que bases afirma que tem apoio da Frelimo, Renamo e do PDD?
Quando anunciei a minha candidatura, Quelimane entrou em festa. Fui contactado por várias pessoas. Nas ruas de Quelimane, senti o calor e carinho das pessoas. Vim a Maputo, encontrei o mesmo carinho. Fui ao mercado Estrela, andei a pé e encontrei dezenas de pessoas e todos dizem: “acreditamos em ti”.
Mas isso não estará a acontecer porque ainda não se sabe quem será o outro candidato? Será que esse “amor” por Manuel de Araújo não irá mudar quando os eleitores de Quelimane souberem quão potente será o candidato da Frelimo?
A Frelimo está com dificuldades de encontrar um candidato para Quelimane. É a primeira vez que a Frelimo está na recta-guarda.
Consta que as renúncias ao cargo de edil, nas autarquias onde eleições intercalares terão lugar, tenham sido por pressão da própria Frelimo. No caso concreto de Quelimane, julga que o partido no poder terá feito isso sem ter pensado no substituto de Pio Matos?
Eu venho de Quelimane. Falo com os membros da Frelimo em Quelimane. Conversei com os membros da Assembleia Municipal. É bem provável que, se o voto tivesse sido secreto, Pio Matos seria ainda presidente de Quelimane. Havia membros da Assembleia Municipal que estavam decididos a votar pela manutenção, mas porque a democracia que temos é imperfeita, o voto foi de braço levantado e alguns membros não puderam expressar a sua vontade por medo de represálias. Mas o povo está cansado e vai dizer basta! Chega!

1 comentário:

Anónimo disse...

Ena pá o MA a limpar ranho!
Vai ganhar , o povo vai-lhe "fotar", porque ele percebe o povo, até chora pelas "tivigultates do bofo!