terça-feira, março 16, 2010

Lugar de dirigentes que não cumprem as suas promessas devia ser na prisão

afirma Mo Ibrahim, em palestra na cidade de Maputo

Maputo (Canalmoz) – Os dirigentes políticos que não cumprem as suas promessas de governação, sobretudo as promessas de alívio do sofrimento dos seus povos (pobreza, doenças, falta de meios de produção) não deviam ter um novo mandato, porque os mesmos não o merecem. O lugar destes dirigentes devia ser na prisão. Quem exprimiu esta opinião foi o magnata Mo Ibrahim, presidente da Fundação com o mesmo nome que se encontra em Maputo fazendo-se acompanhar de Bono, o famoso músico dos U2.
Mo Ibrahim considera que os dirigentes que não usam os recursos ou a riqueza gerada pelo Estado para satisfazer as necessidade dos seus povos não mais deviam estar no poder, porque, no seu entender, presidentes desta estirpe promovem, com os seus actos, autênticas carnificinas.
Ibrahim fez estas afirmações durante uma palestra realizada, ontem, em Maputo, e que contou com a presença de governantes, de antigos primeiros-ministros, ministros, directores-gerais e também de professores universitários e estudantes.
A palestra foi organizada pela Fundação Joaquim Chissano cujo patrono fez parte do painel principal. A mesma versou sobre a integração económica de África. Mas, durante o debate, a questão da governação constituiu a tónica dominante.

Africanos devem fazer nova África

Mo Ibrahim disse que a sua geração falhou muito naquilo que se chama a responsabilidade da nova geração para a construção de uma África renovada. Tudo depende da actual liderança, pois, no seu entender, o empenho da actual geração de dirigentes na causa comum poderá ditar o futuro de África. “Precisamos, em África, de uma liderança que deve caminhar para a frente”, afirmou Ibrahim.

Não são as ajudas que acabam com a pobreza

Ibrahim explicou que não são as ajudas que acabam com os problemas de pobreza nos países africanos, mas sim a reforma na maneira de gerir os recursos que vêm como ajuda. Segundo o orador, um Estado é digno de ajuda quando sabe gerir os seus recursos internos: “Mesmo com ajudas, não é possível acabar com os problemas, enquanto não mudarmos a mentalidade”. Aquele magnata disse ainda que existem mecanismos que podem fazer a África sair da pobreza, como é o caso do aumento da produção através da agricultura. Mas, segundo ele, o que o que acontece é que os dirigentes preferem investir em coisas que não ajudam a desenvolver, tendo citado como exemplo o seu próprio país de origem: “Estamos mais empenhados em fomentar e sustentar guerras. Nisso, somos muito inteligentes”.

Estados Unidos da África e o futuro

Falando dos Estados Unidos da África e da integração económica, questão levantada por muitos dirigentes moçambicanos durante o debate, Mo Ibrahim disse que é um sonho muito bom e com muitas vantagens, mas o problema está na lentidão do processo. Disse que o processo da materialização dos Estados Unidos de África está a ser muito burocrático, por isso é preciso caminhar mais depressa rumo à criação de uma verdadeira União. No seu entender, há que parar com “politiquices desnecessárias”, porque o que as pessoas querem é ter comida na mesa e as suas vidas melhoradas.
Para Ibrahim, a criação dos Estados Unidos da África poderia ajudar na contenção de despesas em África. Como exemplo, disse que “nos Estados Unidos da África não precisaríamos de tantos diplomatas que vivem em casas caras, com carros caríssimos e com muitas outras mordomias, enquanto temos uma África real de fome e miséria”.

Quem é Mo Ibrahim

Mo Ibrahim é um britânico de origem sudanesa, empenhado no desenvolvimento do continente africano. A fundação que tem o seu nome instituiu, em 2007, o Prémio Mo Ibrahim, que distingue com cinco milhões de dólares um ex-chefe de Estado africano que tenha abandonado voluntariamente o poder cujo exercício tenha sido marcado pelo compromisso com os valores do Estado de Direito.
No primeiro ano da sua criação, o Prémio Mo Ibrahim foi atribuído a Joaquim Chissano, que foi Presidente da República de Moçambique entre 1986 e 2004.

(Matias Guente)

Fonte: CanalMoz - 16.03.2010

1 comentário:

Linette Olofsson disse...

Ainda bem que recenhece isso Mo Ibrimo.
A Afrika necessita de uma nova visão!
Não será com esta nossa geração infelizmente.
Levará duas ou mais gerações.
Os actuais governantes não estao preocupados com o futruo do continente a meus ver.
Estão completamente preocupados com a criação de riquezas para si e para suas familias.
Com uma força galopante.