terça-feira, janeiro 26, 2010

Por uma leitura sócio‐histórica da etnicidade em Moçambique (2)

Por Sérgio Chichava

Continucão (1)

Tribo, tribalismo, etnia, etnicidade, breve clarificação dos conceitos

Antes de mais, é preciso sublinhar que tribo e etnia são dois termos quase equivalentes. Para P. Mercier, uma etnia é um “grupo fechado, descendendo de um mesmo antepassado ou, mais geralmente, tendo a mesma origem, possuindo uma cultura homogénea e falando uma língua comum3 Por seu lado, J. Honigmann afirma que" em geral, os antropólogos estão de acordo sobre os critérios através dos quais uma tribo (como sistema de organização social) pode ser descrita: um território comum, uma tradição de descendência comum, uma linguagem comum, uma cultura comum e um nome comum...”4.
Segundo Catherine Coquery‐Vidrovitch, o conceito de etnia teria aparecido pela primeira vez no vocabulário científico por volta de 1787. Nessa altura, tinha uma conotação religiosa, significando “pagão”, em oposição ao cristão ou ao judeu5. Com a emergência do imperialismo colonial nos finais do século XIX, o conceito vai mudar de sentido, passando a designar os povos ou sociedades consideradas “primitivas” ou pré‐industriais, em oposição às sociedades ocidentais ou evoluídas. A partir dessa altura, a tribo ou etnia, em oposição à nação ― fenómeno então tido como tipicamente ocidental ― foi considerada como um fenómeno africano, onde os respectivos povos não teriam consciência da sua unidade nem vontade de viver em conjunto.
Por derivação das definições acima, etnicidade ou “sentimento étnico” é um “feito de consciência” (« fait de conscience »), porque ela não é nada mais que a consciência de pertencer a um grupo humano diferente dos outros e de reivindicar essa diferença6. A etnicidade seria pois, a expressão da identidade étnica, da diferença.
O tribalismo, que à semelhança de todos os “ismos” tem uma conotação ou carga negativa, seria a exclusão dos que não pertencem à nossa tribo ou etnia, marginalizando‐os ou excluindo‐os. O tribalismo seria a instrumentalização ou a manipulação das identidades étnicas com vista a tirar certos benefícios. Mas o tribalismo não pode ser visto apenas do lado negativo. Como afirma Christian Coulon, ele pode também constituir o veículo de reivindicações populares e, frequentemente, provocar paixões colectivas7.

A série continua, mas para os curiosos podem ler todo o artigo aqui.

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