domingo, fevereiro 08, 2009

Reflexão sobre o novo curriculo na UEM

Haverá quem duvude que o ensino superior em Moçambique precisa de mudanças ou reformas? Parece que esse não é o problema. Mas há muitos preocupados quanto
às reformas que resolvam os probemas actuais do ensino superior em Moçambique.

Sem dúvidas, reformas curriculares em todo ensino universário precisam-se e muito urgente. Mas para tal, deve-se fazer primeiro um estudo sério. Mesmo ao que Filipe Couto quer copiar, mereceu estudos e está sempre em testagem e avaliação.

Portanto, o que nos conduz a uma batatalha sobre as mudanças curriculares da UEM é a forma como elas são feitas. Isto é, as mudanças são mais administrativas que académicas. Pelo que entendo sobre estas reformas é o poder e o direito que Couto tem, na sua qualidade de reitor.

É para mim concordável que , por exemplo, muitos cursos tenham o bacharelato, mas há os que assim não devem ser feitos pela sua complexidade. O curso da medicina, por exemplo, é tão complicado e de responsabidade que precisa duma rigorisidade minusiosa no terreno. Sejamos prudentes nisto.

Agora o que será o estudante da medicina em três anos?Enfermeiro, para-médico ou técnico-superior da medicina, médico?

Suécia, país muitíssimo desenvolvido, correspondendo a um meio (1/2), tanto em tamanho superficial como em populacional de Moçambique, tem pelo que me vem, na cabeça apenas, três universidade que formam médicos. A universidade de Örebro por exemplo, uma instituição do ensino superior desde 1968, é universidade apenas desde 1998, está há mais de quatro anos lutando pelo mais ambicionado curso de medicina. Entretanto, os avaliadores que são cientistas e apolíticos acham que a universidade de Örebro não está ainda em condições para formar médicos. Um curso da medicina é muito caro.

Afinal qual é a base da formação de médicos? A primeira e fundamental, está na capacidade do hospital aí existente. O hospital regional tem que ter condições em termos materiais, laboratórios e pessoal, (médicos pós-graduados e com investigação reconhecida) isto é, professores em medicina. Portanto, é diferente aos títulos que se atribuem a todos que sejam médicos ou tenham qualquer doutoramento em Moçambique. Na Suécia, é primeiro o hospital local que ganha o títuto de universidade (por ex: Hospital Universitário da Carolina, de Umeå, de Gutemburgo ou Örebro) e depois é que a instituição do ensino superior com muita experiência de formar pessoal da saúde ou medicina.

Seja ou não a nossa ambição de formar doutores, a ponto de, em Moçambique, chamarmos curandeiros ou feiticeiros a doutores (sem conhecimentos em anatomia), a formação de médicos é complicada e requer muitos anos. Daí me interrogo se UniLúrio é mesmo uma universidade. Será que o Hospital Central de Nampula tem Professores (médicos pós-graduados ) e quantos são com o tempo suficiente para os pacientes e estudantes da medicina? A pesar de Nampula ser a minha província, nada tenho a jubilar pela UniLúrio por não ter visto as condições que lha permitisse ser uma universidade. Julgo ser uma decisão política que científica essa de uma universidade de raiz. Mas entendo que muitos políticos querem ser “doutores honoris” uma atribuição que recebem de “Professores honoris”

Em termos de engenharia, há muitos cursos que julgo puderem ser feitos com bacharelamento, mas que a transição ao mestrado deve depender do mérito prático ou teórico do indivíduo/estudante.

Sou da opinião que um enfermeiro, se chama assim, qualquer indivíduo que tenha preferido estar apenas em três anos na cadeira da universidade em ciências da saude, devia passar pela licenciatura como uma das possibilidades para a sua progressão profissional.

Estou achando que não estamos a discutir o problema da reforma curricular universitária, isso que deveria ser para todas as nossas universidades em moçambique e não só na UEM. Ver a discussão no Diário de um Sociólogo.

Quem garante que o facto de declarar-se 3 anos na UEM, acabarão as reprovações? Serão logo passagens automáticas?

Acho nisto, duas coisas distintas: reforma curricular e o problema das reprovações. Porém tanto um como outro passa aqui em/por conversas. Parece-me que a reforma curricular resulta duma decisão do reitor sem basear-se dum estudo nem consultas nem que políticas fossem. Já me parece que uma vez Couto fora da reitoria, logo virá um novo currículo. Aliás, é isso mesmo que aconteceu com a UCM (Universidade Católica de Moçambique). Lembram-se?

O mesmo faz-se com a questão das reprovações. Num país com muitas reprovações e mesmo no ensino superior, onde normalmente vão indivíduos supostamente com dedicação aos estudos, isto é, os melhores dos melhores no ensino pré-universitário. As reprovações no Ensino Superior deviam merecer um estudo particular e não fazerem-se em conversas.

6 comentários:

Jonathan McCharty disse...

Sempre "Reflectindo", fazes aqui umas boas reflexoes sobre este "imbroglio" que esta' a querer se criar ao nosso ensino "superior"! Os pontos que referes em relacao a Suecia sao bastante oportunos!
Esse reitor precisa entender que esse negocio de "PBL" que ele apanhou nao sei onde, nao funciona para a nossa realidade, onde nem sequer ha bibliotecas e os professores nem sequer sao "profissionais"!

Ntsolo disse...

Bom para mim mais do que o tempo de duracao de um curso, e o conteudo do curso que conta. Sem relevar a importancia do tempo (3 ou 6 anos), o titulo que o formando recebe (bacharel ou licenciado), o conteudo do curriculum e estremamente importante para uma formacao de quadros que virao a servir os interesses publicos em Mocambique. Existem cursos de curta duracao com uma forte insistencia no conteudo, centrado no essencial e que formam quadros com qualidades. E claro que ha diferencas entre um cuso de curta duracao e um curso fornecido por uma universidade. E muito mais ainda, um curso de medicina e de ciencia politica.

Um outro aspecto da reforma e procurar saber se os estudantes de medicina apos 3 anos de bacharelato, serao ou nao formamlmente habilitados para trabalhar ou curar doentes. Pode ser que o bacharelato seja simplesmente uma fase transitoria e que para que o formando de 3 anos de medicina, possa trabalhar e curar doentes, tenha que passara por uma espcializacao ou um estagio.

Portanto o meu comentario se centra sobre a questao do conteudo do curso e nao sobre a sua duracao ou o grau que o formando recebe depois da sua formacao. Fique claro que nao menosprezo a duracao e o titulo, so acho que o conteudo e mais importante.

Jonathan McCharty disse...

Ntsolo!
Nenhuma universidade no mundo atribui graus em Medicina, ao cabo de 3 anos. Se a preocupacao e' formar "tecnicos de medicina", penso q existem Institutos de Saude, neste pais. Esse e' apenas o periodo necessario para a "maturacao" teorica, seguindo-se entao, a componente pratica, propriamente dita do curso. A media mundial de duracao deste curso e' de 6 e nalguns casos, 7 anos! Em parte alguma, um individuo q acaba de sair da "secundaria" e' ensinado a perfomar operacoes cirurgicas, quando ele nem sequer conhece os orgaos q constituem o corpo humano e que interaccao existe entre eles. Se falo de Medicina, falo de Engenharia! Agora, este tipo de brincadeiras pode (mas nao devia) ser feita em cursos onde ao individuo e' apenas exigido "falar" e a sua sobrevivencia profissional, depende somente da sua habilidade de "mentir" ou "manipular"!

Reflectindo disse...

Para este assunto talvez eu volte neste fim de semana. Este tema é importante demais que não posso discutir de passagem.

simoes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
simoes disse...

A questao da implementacao do novo curriculum e' algo satisfatorio para os estudantes abrangidos, pois permitira a realizacao do curso em pouco tempo, mas peca pelo facto de nao ter existido um estudo antes da sua implementacao. Digo isto porque penso nao ser possivel concluir com maturidade e qualidade um curso em tres (3) anos com a dificuldade de material bibliografico existente neste pais, onde por exemplo, cerca de 80 por cento dos estudantes nao terem acesso a internet.