segunda-feira, janeiro 12, 2009

A Água no conflito do Médio Oriente

Algo que raramente se fala no conflito do Médio Oriente é o que há já dez anos, o meu professor da cadeira de geografia de desenvolvimento me ensinara de tratar-se de uma batalha pelo controle da água. Depois de muitos dos problemas terem sido resolvidos entre as partes em conflito, ficou a questão de água por se resolver.

Recordando-me do tal professor, fui de facto ao google para buscar se havia algo escrito sobre a água como uma das causas do conflito, tendo encontrado neste blog aqui o texto da advogada ambientista Ana Echevenguá. É um texto muito valioso para entender o impacto do recurso hídrico no conflito do Médio Oriente.

Estranhamente, fala-se agora de uma das causas do conflito ser por controle do gaz (clique aqui e aqui), algo para mim nova, mas na realidade, no Médio Oriente a água vale mais do que o gaz. Pode ser que valha a pena para não falar muito desta questão que seria uma justificação do impasse quanto à (re)difinição das fronteiras e à independência total da Palestina.
Quem e como se geririam as águas superficiais da bacia do rio Jordão, incluindo o alto Jordão e seus tributários, o mar da Galiléia, o rio Yarmuk e o baixo Jordão?

Há na Faixa de Gaza águas subterrâneas: 2 grandes sistemas de aquíferos: o aquífero da Montanha, totalmente sob o solo da Cisjordânia, com uma pequena porção sob o Estado de Israel, aquífero de Basin e o aquífero Costeiro que se estende por quase toda faixa litorânea israelita até Gaza. Quem e como se geririam? Vale a pena ler todo o texto da Ana Echevenguá neste blog para continuarmos a debater.
Nota: 1) fiz alguns reparos ao texto que havia escrito às correreias; 2) contactei a Ana Echevenguá, a advogada ambientista, autora do artigo em referência, dando-lhe a conhecer este cantinho e amávelmente confirmou que já o visitou.

4 comentários:

Bayano Valy disse...

meu caro,
pelo que entendo, a água é um das determinantes mas não a única. porém, é preciso frisar que os seres humanos vão sempre competir pelos recursos, todavia, no final do dia, acabam cooperando para a gestãos dos mesmos. penso que está-se a caminhar para uma situação é que a coordenação da gestão da água será uma alternativa a ser abraçada pelas partes envolvidas no conflito.
abraços

Reflectindo disse...

Óptimo 2009 para ti, Bayano!

Claro, que a água não é o único determinante no conflito no Médio Oriente. Há outros e como escrevi, alguns já ultrapassados há já muitos anos. O que eu e outros estranhamos, é que o factor água menos se fala e até se procura meter o gaz como o mais determinante. Não é que o gaz não possa ser importante, mas entendo que não ultrapassa a água pelo seu valor. Assim penso que a Echenguá nos ajuda bastante ao nos fazer lembrar a questão água naquele conflito. É de esperar que eles resolvam a questão no mais cedo possível, que como dizes, o fim é encontrando mecanismos de coordenacão da sua gestão. Abraço

Jorge Saiete disse...

Alo companheiro.
Olha, uma das constatações dos estudiosos de conflitos é de que a maior e principal causa dos conflitos futuros será o acesso e controle das reservas de agua potavel.

Na verdade, a agua é um dos pilares do conflito Israelo-Palestiniano apesar de em muitas vezes não ser referenciado. E conflitos cujas causas é o acesso a recursos são dos mais dificeis de transformar, porque os recursos (como a agua) são sempre escassos e isto se a associa a ganancia e gula humana. A minha experiencia de estudo de conflitos me levou a concluir (como outros já o tinham concluido) que muitas das vezes, o que as partes em conflitos, apresentam como causas do seu litigio, são apenas "as folhas" e as verdadeiras causas estam na "raiz".

Certamente e como tu e Bayano bem o dizem, há outros pilares deste conflito, mas a agua é um dos principais, se considerarmos o proprio clima do médio oriente. E a transformação daquele conflito, passa pela capacidade de construtivamente cavar e identificar todas as causas, para de seguida aborda-los e infelismente não é o que tem acontecido.todas as rondas negociais que a historia conhece, apenas procuraram responder a alguns aspectos e proteralaram os outros e isso é apenas uma estratégia de gestão do conflito que não conduz a edificação de uma paz no médio oriente.

Reflectindo disse...

Caro amigo Saiete! Estamos em consonância. Acho que a referência deste recurso – água – podia nos ajudar de facto para prevenir conflitos futuros mesmo na nossa região. Pessoalmente, creio que por um lado, o actual sub-aproveitamento tanto das águas dos rios como Zambeze, Limpopo e Rovuma como as do Lago Niassa, faz com que não tenhamos tensões na nossa região. Por outro lado, os limites concebidos em Berlim, embora fossem ao interesse do imperialismo européu, contribuem para esta acalmia. Esta vantagem, é de facto mais importante que andarmos a falar de constituição de novos estados em África, pois a questão água poderia levar-nos a guerras mais mortíferas e longas que as actuais.

Algo que eu gostaria de saber, talvez de ti, já que o estudo de conflitos é a tua área, é a razão de as partes em conflitos apresentarem apenas as causas superficiais e não profundas. Será que se esquecem ou é questão de estratégia?

Acho que a verdadeira solidariedade nossa para com os povos do Médio Oriente, seria contribuirmos para que as causas de fundo no conflito se pusessem à mesa.