terça-feira, junho 19, 2007

Brincando às democracias

Por Noé Nhantumbo

Beira (Canal de Moçambique) - O futuro de Moçambique torna-se sombrio quando a CNE começa sem consenso.

As peças do puzzle estão se encaixando com a maior perfeição. É curioso e recomenda-se que se pare para reflectir.

Neste jogo chamado «democracia à moçambicana» há coisas que de facto só entre nós é que acontecem.

Se numa partida de qualquer desporto em que participam duas equipas opostas há todo um conjunto de regras de cumprimento obrigatório para os intervenientes, no jogo democrático moçambicano, as coisas tem outra forma e conceito: há quem parte e reparte e fica com a melhor parte.

A pretensão de ver Moçambique gozando de uma democracia florescente ficou uma vez mais gorada ou pelo menos estão ficando reunidos todos os elementos para que as coisas não mudem.

No passado recente viu-se como as CNEs actuaram quando era para se decidir onde estava a razão em qualquer diferendo.

Está claro para todos que em Democracia, numa votação, ganha a maioria. Mas, entre nós, o problema é como as maiorias são construídas ou fabricadas. E é esse o problema no caso da CNE.

Com a introdução do conceito sociedade civil e de organizações afins, os detentores do poder conseguiram dar a volta por cima às reais pretensões da verdadeira sociedade civil. Como bebés-proveta, foram produzidas várias organizações para se parecerem com representantes da sociedade civil mas, no momento da verdade, quando a sua opinião conta e é decisiva, elas na sua maioria alinham pelos “ditames paternos”. É a farsa!

Não há invenção nenhuma quando se diz isto. Qualquer observador atento chegará à mesma conclusão.

Fazer este conjunto de observações não é uma questão de alinhamento partidário, mas nacional.

Sofremos de falta de identidade nacional ou temos uma que é fraca. Sofremos de falta de sentido de Pátria e amor à mesma.

Os partidos políticos ainda não compreenderam que qualquer agenda partidária tem de primeiro ser nacional. Os cidadãos têm de ser continuamente educados sobre esta matéria.

A construção do país, a sua reconciliação efectiva, a melhoria do ambiente sócio-politico conducente a uma economia que garanta o bem estar de seu povo, passa pelo enraizamento do sentido nacional e desenvolvimento de uma postura apropriada.

Política feita por políticos maduros, independentemente dos egos que possam estar nas contendas, tem de ser feita tendo em mente e como último objectivo o público, servir tal público!

É construindo consensos que os políticos nacionais ganharão a credibilidade necessária e não jogando baixo.

A auto-censura que parece estar ganhando terreno no país é perigosa sob todos os pontos de vista democráticos.

Ditadura política disfarçada ou camuflada, recados e mensagens estrategicamente colocados no caminho das pessoas, não apontam o melhor caminho a seguir.

Em Moçambique, embora quase ninguém se atreva a dizer, todos os pratos que a «cozinha local» confecciona são para a boca dos que pertencem a uma determinada lista. Só para alguns.

De uma maneira imperceptível, a transição do sistema de partido único para o multipartidarismo deixou quase tudo na mesma ao nível dos tomadores de decisões. Aqueles que ao abrigo de sombras e coberturas, às vezes mesmo invisíveis, controlavam os cordelinhos, não perderam nem um palmo da sua esfera de influência.

A economia, factor determinante de toda a movimentação política passou de estatal para mãos privadas, mas estas estão sob controlo do mesmo partido de ontem e das mesmas pessoas.

Desenvolver um ambiente político que favoreça e promova uma participação plena dos moçambicanos requer entrega de todos os moçambicanos sem olhar à sua cor política. Afinal é a dignidade de todos que está em causa. Mas falar de dignidade parece ser coisa ainda só para alguns.

Fonte: Canal de Mocambique (2007-06-18)

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